USP, Protestos Pró-Polícia, Marcha para Jesus e Reivindicações Pró-Vida

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Alguns alunos da USP organizaram um protesto a favor da presença da polícia no campus. Sob o discurso de que a cidade universitária faz parte da cidade de São Paulo e quem comete infrações à lei, lá dentro, merece ser punido. Depois afirmam que “A minoria contra tudo e todos não pode nos impedir de querer o que é nosso de direito!”.

Somente neste discurso já dá pra reparar certos cacoetes conservadores, como a insinuação de que a lei é a cristalização da ordem máxima e etc, assim como, na tentativa de fazer uma ditadura da maioria a denominando democracia. Ou seja, nós, a maioria, queremos que (por exemplo) gays não entrem na FFLCH, portanto, democraticamente, exigimos que nossa voz vire lei, que é a cristalização máxima da justiça social e, portanto, deve ser seguida cegamente.

Antes de acreditar em qualquer neoconservador que queira dar uma de democrático que luta pela liberdade de expressão e pelo reconhecimento da vontade do povo, creio que nós precisamos reconhecer que a vontade do povo não costuma ser uma vontade progressista nem nada. O povo não quer aborto legalizado, maconha legalizada, Estado realmente laico, leis anti-homofobia e etc. O povo acha que bandido bom é bandido morto, que bandido é bandido por que não tem caráter e etc. Que é tudo uma questão de escolha.

Então, tentar desqualificar o protesto na USP por não ser constituído de uma maioria de estudantes é, no mínimo, desonesto intelectualmente. Onde está a maioria contrária ao protesto? Em casa? Cheque-mate.

O protesto pró-polícia me faz lembrar as marchas para jesus, onde os conservadores saem às ruas em defesa da vida e etc.  Uma maneira emocional de disfarçar a total falta de progresso no pensando religioso. Lutar em defesa da vida é a mesma coisa que lutar pela liberdade de expressão. É possível perceber o real contexto em que essas palavras são colocadas e como são manejadas.

Um exemplo muito bacana, ainda sobre o aborto, para exemplificar como as palavras são manejadas e, em si, já carregam um significado (histórico-social) traiçoeiro: bebê. Quando uma mulher está grávida, a maneira comum de se chamar o que ela carrega na barriga é bebê. Só há um problema, aquilo não é um bebê, é um feto. Bebê é a romantização cristã do valor à vida em detrimento da própria autonomia (e vida) da mulher.

A própria reação ao termo feto é uma prova: quem o diz é frio, cruel, não reconhece a vida que existe num ventre materno e etc. Porém, o que há lá é um (em sentido social) vir-a-ser. Não dá pra chamar de ser humano, não dá pra chamar de vida, é ilógico se ater somente à biologia neste tipo de caso, pois a vida não é só o organismo biológico, mas, também, o aspecto social. A vida é vida enquanto ela é reconhecida materialmente, não? Quero dizer, só existe vida social enquanto existe relação social.

Por isso, eu termino associando essas duas faces conservadoras com a face pseudo revolucionária da luta pela liberdade, por livre-expressão e etc, mas ainda mantém a linguagem engessada aos moldes liberais-conservadores. A discussão sempre estará perdida ou sempre terá como fim algum tipo de reivindicação ética e blá blá blá.

Uma resposta »

  1. Que que vc tá falando, vc nem mulher é para saber alguma coisa. eu quero exercer minha liberdade com aqueles e aquelas que também o querem. E se você quer ter sempre alguém mandando em você, dizendo o que fazer ou não! E que ainda acredita que realmente é livre. Sinto pena de você! Porque vai ser medíocre para o resto da sua vida medíocre. Aceitando sempre tudo de cima para baixo, comendo comida envenenada de agrotóximos num restaurante caro, com cancêr, e ainda achando que é livre.!

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  2. Cara, muito bom esse post!

    “Ou seja, nós, a maioria, queremos que (por exemplo) gays não entrem na FFLCH, portanto, democraticamente, exigimos que nossa voz vire lei” -> muito bom, me fez pensar.

    Mas eu discordo em alguns pontos:

    Será que talvez se na democracia estivesse incluso um limite de não afetar negativamente um terceiro, sendo levado em conta o que o terceiro considera o problema com a democracia não se resolveria?

    O outro, seria quanto ao conservadorismo, eu acho que não necessariamente usar o que existe como base para uma melhora seja conservadorismo e nem que isso não resolveria o problema. Eu acho que desestruturar tudo que esta construido e modificar completamente por uma coisa que nem nós mesmos sabemos o que, é meio fora da realidade, não?

    abraço

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    • Então, já existem limites na democracia e etc. O problema é sua conjuntura liberal… A associação que se tem da democracia sendo automaticamente liberal (e vice-cersa) é um problema.

      E, sim, eu acho que devemos saber para onde vamos, e, aí, poderemos partir pra um caminho certo (vide rev. Russa), o contrário disso é, por exemplo, os protestos apolíticos/apartidários contra a corrupção… O conservadorismo não está naquilo que é velho, mas naquilo que é anacrônico e, se é anacrônico, não adianta tentar insistir…

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  3. “Então, tentar desqualificar o protesto na USP por não ser constituído de uma maioria de estudantes é, no mínimo, desonesto intelectualmente. Onde está a maioria contrária ao protesto? Em casa? Cheque-mate.”

    A maioria está em casa porque está indiferente, conformada ou satisfeita com a presença da polícia na USP. Quando a polícia expulsar os ocupantes da reitoria, dirão “Bem feito!” e irão dormir.

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    • E se a polícia for embora, dirão “putz grila” e vão pra faculdade conseguir um diploma. É uma maioria morta.

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    • “Então, tentar desqualificar o protesto na USP por não ser constituído de uma maioria de estudantes é, no mínimo, desonesto intelectualmente. Onde está a maioria contrária ao protesto? Em casa? Cheque-mate.”

      “””””TRABALHANDO E ESTUDANDO””””””
      BUSCANDO UM FUTURO MELHOR SEM SER FERRAMENTA ESTÚPIDA NAS MÃOS DE NARCO-TRAFICANTES…NÃO ALIMENTANDO O PODER DEVASTADOR DAS DROGAS E JOGANDO XADREZ PARA SABER COMO REALMENTE DAR UM CHEQUE-MATE!

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      • Aham, o problema é quando algum jogador tentar mudar as regras do jogo, aí, mudar a forma como se dá o cheque-mate é impossível sem um confronto.

        Basicamente, essa tentativa de unir o movimento aos “narco-traficantes”, me parece só mais uma lorota neoconservadora, cidadão-de-bem, onde uma suposta informação é só absorvida, mas não avaliada. Típico da comunicação de massa.

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