Manifestação na USP, Polícia e Lula no SUS

Publicado em

Após a abordagem a três estudantes que estavam fumando maconha e, a tentativa de leva-los para delegacia, a PM se viu em uma situação meio estranha. O protesto contra a presença da polícia no campus explodiu e, como deveria ser, a mídia o rejeitou, desviando o seu verdadeiro objetivo.

Transformar o protesto político, que tem como objetivo a retirada da polícia do campus da USP, em protesto contra a prisão de maconheiros é, no mínimo, intelectualmente desonesto. É a maneira fácil de conduzir a massa ao repudio do protesto, afinal, drogas sempre são tópico de consenso geral, é como Hitler, caso você fale mal dele, sempre estarão ao seu lado – um alvo fácil.

É interessante que a opinião pública é, mais ou menos, a de que ”Os estudantes estão fazendo um protesto para retirar a polícia, que está protegendo esses mesmo estudantes, para usar drogas em paz”. A própria forma como a informação é colocada já aterroriza a quem lê: a primeira impressão que me deu ao ler formadores de opinião sobre o assunto, foi que os estudantes da USP estavam a fim de usar crack em paz na faculdade.

Mas, e aqui eu faço uma pergunta difícil de responder quando se vê a abordagem da mídia destes protestos, quer dizer então que o aparelho repressivo (a polícia) está dentro do aparelho ideológico (a universidade) pelo bem dos alunos subversivos (pessoal da FFLCH)? Creio que a polícia está lá para assegurar o bom andamento da reprodução da ideologia dominante, seu papel básico, minando manifestações e etc. A polícia dentro da universidade é o aparelho repressivo atento para acabar com qualquer tipo de protesto (que são comuns) na USP. A morte de um aluno não é argumento, haver polícia no campus não muda muita coisa em relação a isso.

Achei legal a reportagem do SBT sobre a invasão, onde um aluno neoconservador, com um tom pomposo e, ao mesmo tempo, firme, expressa seu descontentamento como um líder de uma maioria que não apoia o protesto. Essa maioria está aonde? Em casa?

Essa é a mesma maioria, por exemplo, que manifesta pela obrigação de políticos terem filhos cursando a escola pública ou, como aconteceu nos últimos dias, mandam o Lula* fazer tratamento no SUS. Argumentam a melhora no sistema, se isso fosse obrigatório, mas esquecem que isso é totalmente fascista. Sabendo que a educação nunca será neutra, nunca melhorará no estado atual das coisas, é fácil se apoiar nela como tentativa de mostrar um lado ético.

A real melhoria da escola, por exemplo, está na queda da democracia liberal que a sustenta. A escola não passa de reprodução de relações sociais de produção – reprodução de ideologia. O argumento é contraditório (uma democracia quer uma pitada de fascismo, então?) e sem fundamento.

Este argumento se trata de mais um desvio de atenção do real problema, que é a democracia liberal. A forma como os protestos na USP estão sendo tratados é a maneira descarada desse desvio: não é um problema político, não é um protesto contra as estruturas do sistema político-ideológico, é um protesto a favor do uso de drogas, é um protesto de cunho individual, é um protesto a favor dos prazeres individuais de uma minoria, etc e etc.

*Nem pense que eu sou Lulista nem nada, já nem sei quantos textos antidemocracia liberal (como a do Brasil) que eu já fiz aqui. Porém, da mesma que eu não sou conservador e falei sobre o Rafinha Bastos, esta situação me obrigou a defender o Lula (e, diga-se de passagem, ao mesmo tempo criticar a democracia liberal que ele manteve, desviando a atenção dos problemas estruturais e “resolvendo” tudo na política social).

Uma resposta »

  1. A mídia é um lixo mesmo, impressionante, eu vi no jornal “bom dia brasil” eu acho, da globo que passa de manhã a mesma coisa. Uma fato interessante foi que o reporter que esava no campus da USP falou que TODOS os alunos queriam a polícia fora do campus. Depois a apresentadora voltou falando, “é, mas na verdade não são todos os alunos que querem isso né..”. Ou seja, o reporter que foi la, pesquisou e viu, constatou que eram todos, esta errado e a pessoa que apresenta corrige? hehe tem algo errado nessa estória né?

    Responder
  2. É como eu já li por aí: tão reclamando do Lula não usar o SUS pro tratamento do câncer, mas caso ele usasse apareceria esses mesmos negos reclamando que ele tá tirando o lugar de quem precisa há mais tempo.

    Responder
  3. Pingback: Neutralidade na Mídia, USP Maconheira, Humoristas Levados à Sério e Hope Feminista « Cabana de Inverno – Sociedade, Ideologia, Crítica Social, Feminismo, Machismo, Socialismo, Capitalismo, Anarquismo, Vegetarianismo, Comunismo, Marxismo, S

  4. Considero imoral a existência de um jornal tão direcionado, o qual não informa os distintos pontos de vista, apenas empurra uma visão totalmente parcial. Por exemplo, em nenhum momento fala de como a pm afetaria a liberdade de expressão. Aparentemente os alunos estão contra a má iluminação, mas, isso também será corrigido. Informa tão pouco do ponto de vista dos que estão contra a pm, que isso aparentemente se torna sem sentido. Claro, relaciona diretamente os alunos contra a pm como defensores do uso de maconha. Insinua também que os problemas de segurança é por falta da pm.

    Responder
  5. Um absurdo em pleno o século XXI o estado insiste em reprimir estudantes por problemas de liberdade. Está na hora de discutir os paradigmas modernos em relação às drogas. Esse papo de repressão não cola. É ridículo ver uma tropa de choque em um campus de universidade para reprimir uso de drogas. Enquanto São Paulo vive uma onda de assalto em todos os setores, desde caixas eletrônicos até joalherias em shoppings, colocando a vida da população em risco. Uma coisa de cada vez, enquanto a tropa de choque corre atrás dos bandidos. O estado vai discutindo o problema da descriminalização da maconha. Assim fica mais fácil!
    Ass, mimesis

    Responder
    • A tropa de choque é como uma reserva do aparelho policial. Não faz diferença se ela está toda na USP. Sobre o por que dela aparecer em peso na universidade, eu coloquei em um post que será publicado amanhã.

      Obrigado pelo comentário.

      Responder

Deixe um comentário