Demissão Em Massa Na Caros Amigos
A direção da Caros Amigos anunciou ontem a demissão em massa dos funcionários em greve, tendo como motivo a “quebra de confiança”. A greve foi utilizada como última resistência à precarização do trabalho dentro da redação da revista, que contava com 11 trabalhadores.
A Greve
A greve começou como resposta e resistência às medidas da diretoria da revista para solucionar seus problemas financeiros e fiscais, medidas essas que programavam uma redução de 50% na folha de pagamento da revista e a demissão de metade dos funcionários, tudo “devido ao pagamento de dívidas fiscais acumuladas desde o ano 2000 e ao déficit operacional entre receitas da editora e custos fixos, incluindo os nossos (baixos) salários”.
O trabalho que era feito por 11 funcionários seria feito por 5 ou 6, sem redução do trabalho total da revista, ou seja, com aumento de trabalho para cada colaborador e sem aumento de salário. O Diretor-Geral da revista também afirmou que começaria a utilizar serviços free-lancers para complementar o que faltaria pelo défict de funcionários.
A contração de Freela’s seria uma maneira de continuar com a estratégia de “ausência de registro na carteira profissional, o não recolhimento das contribuições do FGTS e do INSS “, como relata a própria equipe da redação.
Toda a equipe da redação mantinha relações com a administração da revista, “Desde 2009, que foi quando essa equipe que há na redação hoje começou a ser montada, a gente tem se organizado para conversar com o diretor-geral da revista para ir gradativamente melhorando as nossas condições de trabalho” – mas este contato constante não adiantou de nada, foi necessário algo mais drástico.
Contradição da revista
Agora, o que mais me surpreende é que a revista respeitada pela esquerda, com ótimos artigos críticos e que não se pautava no mercado para escrever, para traçar sua linha editorial, de repente, mesmo em situação de crise, utilize uma arma do patronato. A demissão em massa feita pela direção prova que patrão é patrão, não importa onde.
Há diversas maneiras de reerguer uma revista, “como a publicização da crise financeira e a criação de uma campanha para ajudar a revista poderiam ser tomadas para que não fossem necessárias as demissões dos profissionais”. Entretanto, demissão em massa só adianta a falência da revista.
Comprar Livros – Sim ou Não?
Hoje eu fui comprar livros. Comprei 4 livros. Essa semana eu baixei uma porrada de livros – na minha vida, com certeza eu baixei mais livros e filmes do que comprei.
Esta matéria do Opera Mundi, que é bem curtinha, fala sobre uma editora francesa que publica poucos livros por ano e se mantém viva com seus próprios recursos. Não pede empréstimos bancários, não se endivida, mas não passa de doze publicações anuais – entre elas Alain Badiou e Slavoj Zizek – que cobrem temas subversivos.
De acordo com Eric Hazan, o fundador da La Fabrique, seus livros “publicam a ordem existente”. São livros que não são publicados com uma estratégia de marketing para atrair um “público-alvo”. Digamos que não há um “público-alvo” no sentido mercadológico da coisa para livros subversivos, afinal, gente subversiva não costuma nascer igual chuchu na cerca, tê-los como um público fiel seria o mesmo que não ter um público. Exatamente por isso as publicações são escassas.
Preço Dos Livros
Eu ganhei alguns vale-presentes de uma livraria, fui até lá e gastei cada tostão deste vales e o que percebi é que cada livro custa em média 40 reais ~ 50 reais. Não é pouca coisa… Na verdade, é muita coisa, entretanto, é o preço médio dos livros, sejam quais forem. A pergunta que ecoa é: como financiar uma editora que tenha um tema bacana se seus livros são caríssimos? Claro que a culpa não é da editora, há custos para produção de cada livro e há custos administrativos, como aluguel do escritório e salário de funcionários não-produtivos. No fim, o preço é realmente nesta faixa.
A opção menos elegante é baixar os livros. As editoras não ganham nada e podem, sem dúvida, falir. Isso significa que aquela editora que publica os livros que gostamos poderá falir por que nós não compramos os livros que gostamos diretamente das livrarias que compram diretamente dela ou por que nós não compramos diretamente da editora.
Não compre! – Manda o Mercado
No fim, o que se percebe é que há um custo fixo que, a priori, torna a compra dos livros inviável e que tem como desdobramento a falência dessas editoras e, por consequência, o fim de editoras que publiquem livros subversivos. A cultura impressa se revela como apossada pelo mercado – o mercado editorial. Qual é a finalidade do mercado: o intercâmbio com base na demanda construída socialmente. O que vender mais será mais produzido e aquilo que não vende não tem chance de reprodução.
Numa sociedade consumista e individualista, pautada numa naturalidade do sistema capitalista, qual será a demanda do mercado? Livros de Bakunin? Creio que não.
Morre Hugo Chávez – Que Será Da Venezuela?
Uma Perda De Referencial
Morre hoje o então presidente da Venezuela Hugo Chávez – uma morte surpresa, afinal, após o tratamento de seu câncer no pélvis, tudo parecia resolvido, inclusive com declaração do próprio Chávez após a quimioterapia.
Com 58 anos de idade, ele foi, conforme fala de Zizek: “Todos amam as favelas e os marginalizados, mas poucos querem vê-los mobilizados politicamente. Hugo Chávez entendia isso, agiu nesse sentido desde o começo e, por este motivo, deve ser lembrado”. Isso significa que Chávez viu nos marginalizados o novo “proletariado”, ou seja, a nova classe revolucionária, o novo sujeito histórico, os novos despossuídos não são mais os operários da indústria, mas sim os favelados e marginalizados.
Comentários Gerais
Conforme não era novidade, afinal de contas, isso nunca é novidade, o Jornal Nacional chamou um de seus intelectuais de plantão para comentar a morte de Chávez e o futuro da Venezuela. Demétrio Magnoli foi bem direto e claro ao dizer que “A Venezuela não chega a ser uma ditadura, mas não é uma democracia”.
Eu estava sendo irônico, é claro. Bom, uma ditadura não tem eleições diretas, certo? Então não é uma ditadura. Eu creio que é difícil falar em democracia, pois a democracia é algo intrincado com preceitos do liberalismo. Dizer que a Venezuela não é uma democracia é dizer que ela não é uma democracia nos moldes liberais. Isso, realmente ela não é.
Lobão foi um arauto da felicidade anarco-capitalista adolescente: “Chávez está morto.” Provavelmente seguido de um pulo de felicidade e gritos de satisfação. Suas rezas estão começando a funcionar.
O Destino Escapa
Ele foi eleito e re-eleito por 4 vezes, conseguiu mudar a constituição com apoio popular e se safou de um golpe de Estado, em 2002 – Não dá pra saber se lá havia a figura do líder de massas ou o representante de um grupo cônscio de seu papel político e com apoio manifesto a um projeto socialista. O futuro da Venezuela é imprevisível.
A única coisa que podemos esperar, por enquanto, é que seus eleitores tenham sido agentes políticos, com motivações claras e projetos claros e que, por isso, sejam reais apoiadores e sonhadores de uma sociedade que supere o capitalismo.